Pesquisadora do LAPEEX participa de etapa na África do Sul em busca dos primeiros Homo sapiens
Durante os meses de Maio e Junho de 2024, a arqueóloga Maria Eduarda (MaDu) Donegá está participando de uma importante etapa de pesquisas arqueológica na costa da África do Sul.
MaDu foi aluna de Iniciação Científica da Universidade de São Paulo e bolsista do CNPq, com projeto de arqueologia experimental associado aos estudos de origem e desenvolvimento da transmissão cultural entre hominínios no Paleolítico Africano, tendo sido orientada pelo Prof. Dr. João Carlos Moreno (coordenador do LAPEEX). MaDu atualmente é pesquisadora colaboradora do LAPEEX e é a única estudante brasileira selecionada para integrar o projeto HOMER e o subprojeto Boomplaas na etapa 2024.
Projeto HOMER
O Projeto Human Origins, Mobility and Evolution Research (HOMER) é um grande projeto operado em várias regiões do continente africano. O projeto tem como objetivo primário estudar modelos a origem, comportamento, redes e cooperação humana. Os sítios arqueológicos estudados datam desde mais de 160 mil anos até cerca de 50 mil anos. O projeto ainda busca entender como as sociedades humanas mudaram durante o Pleistoceno Tardio e Holoceno e suas associações com mudanças climáticas . Os pesquisadores buscam entender por que o ambiente está mudando e, para isso, necessitam de dados paleoambientais. Para tal, coletam muitos achados arqueológicos para criarem um denso conjunto de dados.
Subprojeto Boomplaas
O Projeto HOMER é como uma árvore com vários ramos e um deles é a ramificação Boomplaas, liderada pelo Dr. Justin Pargeter, do Center for the Study of Human Origins (CSHO), da New York University . O subprojeto Boomplaas visa compreender o papel das rápidas mudanças climáticas nas adaptações humanas aos ambientes montanos do Cabo sul-africano. O projeto está reescavando a Caverna Boomplaas, um dos principais sítios paleolíticos da África, localizado no sul da África do Sul, com uma sequência de ocupação humana de aproximadamente 80.000 anos. Também estão envolvidos em levantamentos de paisagens.
A etapa de 2024
Nessa temporada de pesquisas, a arqueóloga Madu Donegá irá rotacionar entre Mossel Bay e Boomplaas. Em Mossel Bay, MaDu realizará análise dos materiais líticos (pedra lascada) encontrados em diversos sítios trabalhados pelo Projeto HOMER. Em Boomplaas, participará das escavações.
"Estou muito animada e feliz com tudo que está acontecendo. Estou aprendendo muito todos os dias e estou honrada de poder representar meu país neste projeto", comentou MaDu Donegá.
Ponta lítica é encontrada no Sambaqui de Cabeçuda (Laguna, SC)
Foi publicado um novo artigo, em parceria entre os pesquisadores do LAPEEX e do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos (LEEH) da Universidade de São Paulo (USP), sobre o achado de uma ponta lítica em um concheiro litorâneo.
As pontas líticas são comumente encontradas em sítios arqueológicos associados a grupos caçadores-coletores de diferentes culturas datados entre 13 mil e 5 mil anos atrás. Achados mais recentes são mais raros, especialmente em sítios de grupos sambaquieiros, que não produziam este tipo de artefato.
O Sambaqui da Cabeçuda, localizado em Laguna (SC), onde foi encontrado o artefato em questão, é um sambaqui que começou a ser construído a cerca de 4500 anos mas que nunca teve sua indústria lítica lascada estudada. De fato, líticos lascados são pouco frequentes na maioria dos sambaquis e, portanto, encontrar uma ponta lítica é algo ainda mais raro.
O artefato foi encontrado há quase 50 anos, tendo sido registrado em 1969, mas nunca foi estudado. O registro carece de informações sobre o contexto estratigráfico, impossibilitando entender a sua relação com o concheiro. Esta não é a primeira vez que pontas líticas são encontradas em concheiros, mas, em todos os casos, são achados muito raros e entendidos como produto do contato entre os grupos sambaquieiros e grupos de caçadores do interior do Brasil meridional, ou apenas à passagem de grupos do interior durante períodos em que os concheiros não estavam sendo ocupados.
Toda a discussão sobre a relação de grupos sambaquieiros e grupos caçadores do interior é apresentadas pelos autores que assinam o artigo: o Prof. Dr. João Carlos Moreno (coordenador do LAPEEX-FURG), Dra. Gabriela Mingatos (pós-doutoranda do LEEH-USP e pesquisadora associada do LAPEEX-FURG), e Dra. Mercedes Okumura (coordenadora do LEEH-USP). O artigo se encontra disponível em livre acesso no link a seguir:
Equipe LAPEEX realiza pesquisas no CEPA-UNISC e MARSUL
No retorno das férias do LAPEEX, a primeira quinzena de fevereiro foi marcada pelas atividades de pesquisa laboratorial da nossa equipe no Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas da Universidade de Santa Cruz do Sul (CEPA-UNISC) e no Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL). As atividades realizadas são parte dos projetos de pesquisa em andamento financiados pela FAPERGS e CNPq, coordenados pelo Prof. Dr. João Carlos Moreno, e incluíram curadoria e análise de artefatos ósseos, artefatos líticos e remanescentes humanos, todos provenientes de sítios arqueológicos associados a povos originários do estado do Rio Grande do Sul.
Além do Prof. Moreno, participaram da campanha as discentes do curso de bacharelado em arqueologia Débora Barros Nascimento e Vanessa Carvalho, além da Dra. Gabriela Mingatos (pós-doutoranda do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos da Universidade de São Paulo).
Equipe do LAPEEX no CEPA-UNISC. Da esquerda para a direita: Prof. Dr. João Carlos Moreno, Débora Barros Nascimento, Prof Dr. Sérgio Klamt (diretor do CEPA), Dra. Gabriela Mingatos e Vanessa Carvalho.
Agradecemos ao Prof. Dr. Sérgio Klamt (diretor do CEPA-UNISC), e à Msc. Luisa D'Avila e Cleiton Silveira (equipe técnica do MARSUL) pela disponibilidade em nos receber e pelo apoio e colaboração nos projetos.
A equipe do LAPEEX ainda marcou presença na reabertura do MARSUL para pesquisadores. Um vídeo sobre a visita foi produzido pela equipe técnica do MARSUL:
Novo estudo registra pontas líticas e lesmas miniaturizadas no leste de Goiás
Em novo artigo, publicado no periódico Cadernos do LEPAArq, arqueólogos realizam um estudo sobre a tecnologia de lesmas (um tipo específico de raspador pré-histórico encontrado no continente Americano) e de pontas líticas encontradas em sítios arqueológicos do leste do estado de Goiás. A publicação é resultado de um projeto de arqueologia realizada do âmbito do licenciamento ambiental, numa colaboração entre instituição acadêmica e instituições de arqueologia preventiva.
Pesquisas sobre sítios arqueológicos associados a grupos caçadores-coletores no estado de Goiás têm revelado, desde a década de 1970, uma alta produção de artefatos líticos unifaciais alongados, conhecidos na literatura acadêmica brasileira como ‘lesmas’. Neste mesmo contexto, a presença de pontas de dardos ou flechas produzidas por tecnologias líticas bifaciais tem se mostrado escassa, com casos muito esporádicos reportados em poucos locais, e geralmente interpretada como exceções à norma cultural regional ou evidências de contato com grupos meridionais.
Estes grupos caçadores-coletores, com grande presença de lesmas e nenhuma tecnologia bifacial ou de pontas, foram associados por diversos pesquisadores a uma única unidade cultural que ficou conhecida como “Tradição Itaparica”, criando a ideia de uma suposta homogeneidade cultural que se estenderia do Centro-Oeste ao Nordeste brasileiro. Ao mesmo tempo, outros pesquisadores questionaram a validade desta “tradição” que seria baseada apenas na presença de lesmas e escassez de tecnologias bifaciais, e sem uma devida análise das demais classes de vestígios líticos que compõem toda a indústria.
O novo artigo apresenta um estudo tecnológico de um conjunto de artefatos identificados em cinco sítios arqueológicos situados nos municípios de Planaltina e Água Fria de Goiás, no leste de Goiás. Este conjunto de artefatos é constituído de dezenas de lesmas miniaturizadas, algumas pré-formas bifaciais, uma ponta pedunculada fraturada, alguns percutores e uma lâmina de machado polido. Os resultados deste estudo sugerem que a associação de sítios arqueológicos à “Tradição Itaparica” não deve ser realizada de forma prematura considerando apenas a presença abundante de uma única classe de artefato formal, como a lesma, uma vez que este mesmo artefato pode apresentar variabilidade tecnológica e/ou tipológica regional, e/ou cronológica.
O artigo é de autoria do Prof. Dr. João Carlos Moreno (coordenador do LAPEEX-ICHI-FURG), e com coautoria de João Cláudio Estaiano (JCE Consultoria Ambiental) e Maria Keiko Yamauchi (Prominer Projetos), além de Juliana de Souza Cardozo, Uelde Ferreira de Souza e Claudio César de Souza e Silva (Traços e Ofícios Consultoria Ambiental e Cultural).
O artigo pode ser acessado de forma livre e na íntegra na página da revista: Moreno et al. 2023. Pontas bifaciais e lesmas miniaturizadas: Estudo tecnológico de uma indústria lítica de caçadores-coletores no leste de Goiás. Cadernos do LEPAArq, 20 (40): 334-367. DOI: 10.15210/lepaarq.v20i40.4814
LAPEEX publica sobre o povoamento inicial da América do Sul na Encyclopedia of Archaeology
Em 2024 será publicada a segunda edição da Encyclopedia of Archaeology, publicada pela Academic Press, da Elsevier. Esta edição contará com capítulos básicos e didáticos sobre os principais temas da arqueologia mundial.
A edição contará, pela primeira vez, com um capítulo sobre o povoamento inicial da América do Sul, escrito em colaboração entre dois dos pesquisadores mais atuantes sobre o tema atualmente: o Prof. Dr. João Carlos Moreno, coordenador do LAPEEX-ICHI-FURG, e o Prof. Dr. Carlos Eduardo López, que coordena o Laboratorio de Ecología Histórica y Patrimonio Cultural, da Facultad de Ciencias Ambientales, Universidad Tecnológica de Pereira, (Colombia).
A ocupação inicial das Américas é um dos principais tópicos atualmente debatidos na arqueologia sul-americana. Nos últimos anos, os debates relevantes se concentraram principalmente na validação de sítios arqueológicos datados do Pleistoceno; na diversidade biocultural e na ascendência dos primeiros povos originários das Américas; e nos modelos propostos para as rotas de chegada e distribuição no subcontinente. As populações de caçadores-coletores das Américas eram geograficamente dispersas, caracterizadas por uma ampla variedade de subsistência, habitação e estruturas organizacionais. Sua variabilidade está demonstrando claramente a existência de vias culturais distintas, incluindo o manejo e a domesticação antiga das plantas. A variação regional pode estar relacionada a fatores ambientais, interações culturais, dieta e coevolução da paisagem. Este capítulo apresenta uma síntese dos estudos de do período relacionado ao povoamento inicial da América do Sul com base na literatura arqueológica mais recente sobre o tema.
Pontos chave:
• O capítulo fornece uma síntese de pesquisas atuais sobre o povoamento inicial da América do Sul.
• São apresentados os principais sítios e culturas arqueológicas de dos primeiros povos na América do Sul.
• É apresentado o estado-da-arte dos modelos e hipóteses de povoamento da América do Sul.
• São discutidas as principais abordagens de estudo, problemáticas e direções futuras sobre o tema.
Apesar da enciclopedia ter data prevista de publicação apenas em 2024, o capítulo sobre o povoamento inicial das Américas já está disponível e pode ser acessado no link abaixo.
LAPEEX é contemplado na Chamada Universal CNPq 2023
Esta semana foi divulgado o resultado final da Chamada CNPq/MCTI Nº 10/2023 , no qual o projeto do LAPEEX, coordenado pelo Prof. Dr. João Carlos Moreno, foi contemplado na Faixa B - Grupos Consolidados.
O projeto, intitulado OCUPAÇÃO HUMANA INICIAL, EVOLUÇÃO E DIVERSIDADE BIOCULTURAL DOS POVOS ORIGINÁRIOS NAS BACIAS DO PRATA E LITORÂNEA DO BRASIL MERIDIONAL, se trata de um projeto multi e interdisciplinar que prevê escavações em sítios arqueológicos de diferentes contextos culturais, e análise de diferentes evidências arqueológicas, tais como remanescentes humanos e remanescentes de fauna e flora, artefatos líticos, ósseos e cerâmicos, e sedimentos. O projeto também prevê ações de divulgação científica, arqueologia colaborativa, digitalização 3D de materiais, e produção de um jogo digital didático sobre a pré-história do Brasil Meridional.
Além do Prof. Moreno, ainda integram a equipe os seguintes pesquisadores:
Prof. Dr. Alex Martire |
Pesquisador associado do LAPEEX e coordenador do ARISE-FURG |
Dra. Mercedes Okumura |
Coordenadora do Laboratório de Estudos Evolutivos Humanos, do Instituto de Biociências-USP |
Dra. Gabriela Mingatos |
Pós-doutoranda do LEEH-IB-USP e pesquisadora associada do LAPEEX-FURG |
Dr. Eduardo Apolinaire |
Pesquisador do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET) / Divisão de Arqueologia da Facultad de Ciencias Naturales y Museo Universidad Nacional de La Plata (Argentina) |
Dra. Letícia Correa |
Pós-doutoranda da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), USP |
Dr. Fabrício Vicroski |
Arqueólogo/pesquisador da Universidade de Passo Fundo e pós-doutorando no Instytut Archeologii Uniwersytetu Wrocławskiego (Polônia) |
Ms. Vanderlise Barão |
Técnica em arqueologia/pesquisadora associada do LAPEEX-FURG |
Ms. Pedro Cheliz |
Doutorando em geologia pela UNICAMP |
Ms. Luisa d’Ávila |
Analista cultural do Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul (MARSUL) |
Enrico di Gregório |
Pesquisador colaborador do LAPEEX-FURG |
O projeto tem previsão de duração até início de 2027, começando com as pesquisas de campo no litoral central do Rio Grande do Sul e no Vale do Piratini.
Para saber mais sobre os projetos do LAPEEX, clique aqui.
LAPEEX no DIG-GEGAL 2023
O LAPEEX esteve presente no mais recente congresso do Developing International Geoarchaeology e do Grupo de Estudos Geoarqueológicos da América Latina, ocorrido entre 20 e 24 de novembro de 2023 no InovaUSP, em São Paulo.
Além da presença nas palestras e simpósios, foram apresentados dois trabalhos em formato de comunicação oral, sendo o primeiro apresentado pela nossa TAE e pesquisadora associada, Msc. Vanderlise Machado Barão, intitulado "Sambaqui Capão da Marca A, RS-LC-14: Processos de erosão de praia e os impactos sobre o registro arqueológico".
O segundo trabalho, intitulado "Análise geoarqueológica das estruturas monticulares-circulares encontradas na paisagem do extremo sul do Rio Grande do Sul" foi apresentado pela discente Giovana Gazzana.
Aluna do LAPEEX vence Prêmio Destaque na MPU FURG 2023
A nossa aluna Débora Barros Nascimento recebeu o Prêmio Destaque do Congresso de Iniciação Científica 22ª Mostra de Produção Universitária da FURG, graças ao seu trabalho intitulado Curadoria de Remanescentes Humanos e Morfologia Craniana: Um Relato de Experiência Arqueológica.
Débora é bolsista PROBIC-FAPERGS (n° 2023-0234), sendo orientada pelo Prof. Dr. João Carlos Moreno.
LAPEEX na Semana Acadêmica de Arqueologia FURG 2023
A Semana Acadêmica de Arqueologia da FURG de 2023, ocorrida no começo de outubro, teve participação do LAPEEX, com uma bela apresentação da nossa aluna Giovana Gazzana, sobre o seu trabalho intitulado Análises Geoarqueológicas das Estruturas Monticulares-Circulares Encontradas na Paisagem do Extremo Sul do Rio Grande do Sul.
Neste trabalho, Giovana apresentou dados preliminares das etapas de campo onde realizamos prospecções e aplicamos o método de sensoriamento remoto com técnica de Radar de Penetração no Solo (GPR).
Apresentação do LAPEEX
O Laboratório de Arqueologia e Pré-história Evolutiva e Experimental (LAPEEX) integra o Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O LAPEEX foi criado em 2022 pelo Professor Dr. João Carlos Moreno, atual coordenador.
O LAPEEX realiza pesquisas arqueológicas focadas na Pré-História geral do Velho Mundo (especialmente sobre o período Paleolítico e os primeiros hominínios) e na Arqueologia dos Povos Originários da América do Sul, (especialmente nas primeiras ocupações do continente e nas ocupações costeiras). O LAPEEX forma um Grupo de Pesquisa do CNPq que possui diferentes linhas de pesquisa interdisciplinar em arqueologia, mas seu foco principal se baseia no corpo teórico da Arqueologia Evolutiva e da Arqueologia Experimental, sendo estes aplicados a partir de uma multidisciplinaridade de métodos e técnicas de estudo. Além da pesquisa científica, o LAPEEX realiza projetos de ensino, extensão e divulgação científica da arqueologia.
Última atualização: 07-08-2023